A vinda ao Brasil de uma delegação dos Estados Unidos para anunciar um pacote com medidas que facilitam o comércio entre os dois países rapidamente se transformou em uma oportunidade de pressionar o Brasil contra a presença da empresa chinesa Huawei no leilão do 5G. Na avaliação de analistas ouvidos pelo Estadão, além dos interesses comerciais dos americanos, trata-se de uma tentativa do governo de Donald Trump de gerar boas notícias no campo das relações exteriores, a duas semanas das eleições americanas.
Em um movimento contra a participação dos chineses no leilão de 5G, os norte-americanos disseram estar dispostos a financiar “qualquer investimento” no setor de telecomunicações. Uma delegação de autoridades americanas em visita ao Brasil atacou a China e deixou claro que espera que o País escolha empresas de outras nacionalidades para construir sua infraestrutura 5G.
“Faz parte do ideário do Trump, de colocar a oposição à China como principal item da política externa americana, embora os acordo de simplificação de comércio, como os que foram assinados, não levam necessariamente a um acordo de comércio, já que o governo americano não pode negociar algo assim sem autorização do Congresso”, diz o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Barbosa.
Ele avalia que a delegação norte-americana aproveitou a viagem para oferecer empréstimos e facilidades ao Brasil, “colocando uma ‘cenourinha’ para que o Brasil morda, excluindo a China do leilão”. Para o consultor, o mais prudente seria que o Brasil esperasse o resultado das eleições norte-americanas para decidir.”
Oliver Stuenkel, coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), concorda que uma delegação do governo Trump tem pouco ou nenhum peso, às vésperas das eleições no país. “Em um primeiro momento, considerava ruim para o Brasil a demora em definir a questão do 5G, mas agora parece ser a medida mais acertada, negociar com quem quer que seja o presidente americano nos próximos quatro anos.”
Atrás nas pesquisas eleitorais na disputa contra o democrata Joe Biden (embora a distância entre os candidatos tenha caído), Trump pode perder a Casa Branca em novembro. Para Stuenkel, no entanto, a vitória democrata não traria grandes mudanças na postura americana de conter o avanço chinês no 5G. “Ao contrário, o interesse dos Estados Unidos em vencer a China permaneceria e Biden seria mais popular entre os europeus do que Trump é hoje, o que vai contra o interesse chinês.”
Conforme antecipou o Estadão/Broadcast na última segunda-feira, o conselheiro de Segurança dos Estados Unidos, Robert O’Brien, que lidera a delegação, disse que se o Brasil escolher a empresa chinesa Huawei para implantação da tecnologia 5G no País, os dados do governo e de empresas brasileiras poderão ser “decifrados” pelos chineses.
A frase foi dita em uma reunião fechada na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No evento, que teve a participação virtual de cerca de 70 empresários, O’Brien disse recomendar “fortemente” que os parceiros dos norte-americanos adotem fornecedores “confiáveis”.
Juarez Quadros, consultor e ex-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), lembra que é comum que os países enviem delegações para convencer outros governos de que sua tecnologia deve ser escolhida, sobretudo em disputas importantes como é o 5G. “O Brasil tem a quinta maior rede de telefonia móvel do mundo e é natural que seja uma das principais peças de disputa entre essas potências, mas a concorrência está mais politizada. Não é comum que uma concorrência desse tipo envolva os líderes das maiores economias.”
Ele avalia, no entanto, que embora seja prudente que o Brasil aguarde uma definição de quem será o presidente dos Estados Unidos pelos próximos quatro anos, a demora na definição do governo Bolsonaro sobre o futuro do 5G no País tem deixado os brasileiros para trás em comparação com países europeus e também de vizinhos, como Uruguai.
Professor de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e da FGV, Vinícius Rodrigues Vieira avalia que o governo Trump vai buscar gerar fatos que repercutam entre os eleitores americanos, principalmente pelo sentimento contra a China, que cresceu durante a pandemia do novo coronavírus. “O governo tem todo o interesse em demonstrar que está pressionando o Brasil, maior mercado da América Latina, na cruzada contra os chineses.”
Vieira pondera, no entanto, que caso ocorra a eleição de Biden em novembro, a agenda do ambiental defendida pelos democratas americanos bateria de frente com o que defende o governo Bolsonaro, o que faria com que o Brasil se afastasse dos Estados Unidos.
“Dependendo do que ocorrer por lá, o Brasil pode até cair no colo da China, já que a ala militar do governo Bolsonaro está mais propensa a tentar conseguir vantagens em ambos os lados do que gostaria a ala ideológica do governo”, diz.
Estadão
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