Chef Batista: Paraibano inaugura com Claude Troisgros novo restaurante
A pandemia do novo coronavírus, no início de 2020, pegou os chefs, amigos e parceiros de trabalho de décadas Claude Troigros e Batista (como é conhecido o paraibano João Batista Barbosa de Souza) não apenas de surpresa, mas também em meio a uma obra: eles botavam de pé um sonho antigo, um restaurante de cozinha brasileira dos dois, onde a ideia era resgatar pratos ligados à história e a referências familiares de Batista, com um toque de Troigros.
– Aí chegou a pandemia quando a gente estava no meio da obra. O que fazer? Com as receitas todas testadas,resolvemos criar o delivery Do Batista para atravessar esse período delicado. As pessoas queriam em casa uma comida reconfortante, brasileira, de raiz. E assim foi – conta Batista, sobre a experiência de levar o projeto da casa física para o plano virtual, ainda em 2020.
Quase um ano depois, a dupla recebeu um convite do NorteShopping, no Cachambi, para reforçar o time de grande figuras da gastronomia presentes no novo coletivo gourmet do shopping, o TasteLab. E em 14 de maio último, nasceu ali, em terras suburbanas e apostando em um público até então não explorado da Zona Norte do Rio, a primeira unidade física do Do Batista.
No novo espaço, o braço-direito de Troigros na cozinha e, há alguns anos, também na TV – agora, os dois estão no ar no reality show Mestre do Sabor, da TV Globo – ganha os holofotes. Vêm da história de Batista e de sua família os pratos do cardápio, uma homenagem às suas origens: estão ali a Galinhada Paraibana (R$ 38), frango assado e desfiado, linguiça picante, quiabo, angu, cebolinha, arroz e farofa panko; uma celebração à sua mãe, com o Estrogonofe Mãe Eunice (R$ 44), paleta bovina, molho cremoso com ketchup e mostarda, champignon, cebolinha, milho, cebola caramelizada, arroz e batata palha; e também a lembrança da avó, com a Moqueca Vovó Corina (R$ 62): camarões no molho de moqueca, coco ralado, castanha de caju, banana, coentro, arroz branco e farofa panko. E amigo, não aparece? Mas é claro, está ali o Penne do Claude (R$ 44), massa com paleta bovina, molho de linguiça, cebola, cebolinha, tomate, manjericão e parmesão.PUBLICIDADE
– Os pratos que coloquei com os nomes da minha mãe e da minha avó trazem muito a lembrança da minha infância; quando eu era pequeno eu comia este tipo de comida. Elas me ensinaram muito a cozinhar. Quando eu cheguei no Rio, já conhecia todos os produtos, e o Claude me lapidou. Mas foi uma troca justa. Ele me ensinou as técnicas e eu ensinei para ele sobre os produtos brasileiros – lembra Batista, ou “Batiste”, no sotaque francês do parceiro.
Do Batista traz, nas palavras do chef, “comida brasileira de panela, de raiz, muito tempero e minha personalidade”.
– São pratos ligados às minhas referências, mas com um toque do Claude. Por exemplo, a versão do picadinho leva vinho, uma pegada dele. Ele adora pimenta dedo de moça, então temos em todos os pratos – diz Batista, sem nenhum pudor em modificar um pouquinho os pratos da família para eles terem a cara da dupla.
15 dias viraram 38 anos
Uma dupla reunida e em sintonia, aliás, há muitos anos. Desde quando o então franzino Batista, ainda adolescente, deixou a pequena cidade de Gurinhém, no interior da Paraíba, para se aventurar na “cidade grande”.
– A primeira vez que eu saí da minha cidade para o Rio de Janeiro, eu tinha 14 anos, vim com a minha mãe para a casa do meu tio, fiquei 15 dias. Retornei pra lá e, com 17 anos, vim com a minha avó, ela veio visitar os filhos e eu vim com ela. Desta vinda minha, terminei indo trabalhar com o Claude. Perguntei pra ele se tinha emprego, pra eu ficar uns 15 dias, ganhar um dinheiro para me levar de volta pra Paraíba. Destes 15 dias, eu já estou há 38 anos trabalhando com ele, foi a minha história de vida. Passei por todas as praças, entrada, peixe, carne, fiquei oito anos na sobremesa, passei a ser subchef e, agora, tô na televisão e abri este restaurante, que está omaior sucesso. Estou muito feliz – narra Batista.
Dos tempos em que compravam juntos, de madrugada, peixe em Niterói para o restaurante Claude Troigros aos anos seguintes, a parceria e a confiança entre Claude e Batista se solidificou tanto que, nos anos 1990, o chef francês foi abrir uma filial do CT em Nova York e deixou Batista como responsável pela cozinha do Olympe. Muito risco? Nem. O restaurante, que já tinha duas estrelas no Guia Quatro Rodas, ganhou mais uma quando Batista ficou sozinho. Ponto para os dois.
Lembranças marcantes desta jornada a dois não faltam. Batista recorda, com carinho, de quando, em 2016, foi a Nova York gravar um especial de férias para o programa Que Marravilha, da GNT.
– Foi a primeira vez que o Claude me levou para Nova York. Quando cheguei lá, fiquei encantando com a cidade. Estávamos gravando à noite e, em um telão na Times Square, tava eu e ele lá. Aquilo ali foi muito emocionante para mim, as lágrimas caíram e eu caí na real. Eu lembrava muito da minha cidade, muito pequenininha, de interior na Paraíba, de repente eu estava ali, numa cidade grande de outro mundo. Isso me marcou muito – lembra o chef, entre um áudio e outro, mandados por whatsapp em meio à correria de uma agenda intensa, de gravações para a tv à jornada no novo restaurante do TasteLab (onde passa metade do dia) e o delivery das marcas da dupla.
Quem quiser conhecer a comida do Do Batista in loco, no NorteShopping, pode também experimentar outras novidades de chefs que se instalaram por lá. No Taste Lab, tem o Katita, da parceira de Mestre do Sabor Kátia Barbosa, além das marcas Seu Porkinn, Cobre, Bobô, Sakei, Wiki Wiki, Grand Cru, TT Burger, Noi, É Giro , Blend , David Melo Culinary School , Le Depanneur, Amazzoni , Le Remy e Olenka .
O Globo