BRASÍLIA – Enquanto o governo enfrenta dificuldades na CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tem apostado mais na articulação política do que seu antecessor, Eduardo Pazuello. Em quase dois meses e meio na pasta, Queiroga já teve 44 reuniões com deputados e senadores. Pazuello, nos seis meses em que ficou como ministro efetivo, teve 35 encontros com parlamentares.
O levantamento, feito a partir da agenda oficial dos dois ministros, não considera as participações dos titulares da Saúde em comissões da Câmara e do Senado. Algumas reuniões contaram com mais de um parlamentar, assim como alguns políticos estiveram com o ministro mais de uma vez.
De acordo com interlocutores do presidente Jair Bolsonaro, uma das orientações dadas ao ministro foi justamente ter um contato maior com parlamentares. Nas primeiras reuniões com políticos, Queiroga surpreendeu ao usar o lema de campanha de Bolsonaro — “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Queiroga prestou depoimento na CPI da Covid no início de maio, quando estava há pouco mais de um mês no cargo. Os membros da comissão, no entanto, reclamaram de respostas evasivas e consideram a participação insuficiente. O ministro foi reconvocado, e seu novo depoimento marcado para a próxima terça-feira.
Apesar das críticas na CPI, Queiroga tem sido elogiado pelos parlamentares com quem se reuniu. Eles relatam que o ministro é mais acessível e está mais aberto ao diálogo do que Pazuello, com quem tinham “dificuldades”.
— Eu acho que o Ministério da Saúde tem avançado. A postura do ministro tem sido diferente. Tanto na postura pública quanto na facilidade de acesso, porque todos os parlamentares têm interesse de levar demandas — aponta o deputado federal Ruy Carneiro (PSDB-PB). Queiroga
Alguns parlamentares pontuam, contudo, que o ministro Queiroga ainda precisa transformar o bom diálogo em ações concretas.
— A gente precisa ver se a boa intenção vai ser traduzida em resultado — afirma Felipe Carreras (PSB-PE). — Em termos de atenção, sim (houve melhora). Resolução, não.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS) participou de uma reunião da bancada feminina do Senado com o ministro, em abril, e teve uma boa impressão. Ela acredita, no entanto, que ele não tem autonomia.
— Eles nos impressionou positivamente. Só que hoje a gente sabe que ele não tem autonomia. Ele tem procurado fazer o que ele pode.
Pazuello, por outro lado, é descrito como mais “fechado” e com uma agenda “mais restrita”. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) relata que até se reuniu com o ex-ministro, mas reclama que “não teve resultado”.
Queiroga tem dado uma atenção maior ao seu estado natal, a Paraíba: das 44 reuniões com políticos, nove foram com representantes da Paraíba, mais que o dobro do que o segundo estado mais atendido (Roraima, com quatro).
Em comparação com Pazuello, Queiroga também diversificou os partidos atendidos. Nos dois casos, a legenda com mais reuniões é o PP, mas a proporção diminuiu: com Pazuello foram 11 (contra quatro do PSD e do MDB), enquanto com Queiroga foram nove encontros até aqui, pouco mais do que com o PSL (sete) e com Republicanos (cinco).
O Globo
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